7.4.06

Conversas com um cacto

passo horas no meu quarto
semi-deitada na cama.
a olhar para o espelho que continua ainda inteiro.
e para o intervalo entre as minhas mãos.

passo uma garrafa de água.
com 33cl.
cheia até cima com água da torneira.
Direita
Esquerda
Direita.
sigo-a com os olhos
a abanar-se pelos meus dedos.
gorda, com formas definidas.
vestida por um rótulo que lhe tapa apenas as ancas.

o meu cacto observa-nos.
a mim e à garrafa de água da torneira, que dança e dança e dança.
quase que o ouço pronunciar, das suas folhas aflitivamente verdes:
"Dá-me a tua mão e vamos ser alguém. A vida é feita para nós."

um dia vou sugar-lhe a seiva e usar a terra do vaso para o enterrar, desta vez sem um único milimetro à superficie.

a água servirá para o regar, apodrece mais rápido com água da torneira.

por enquanto continua a degenerar, alimentado pela água da torneira e pela música que me penetra a pele.

Direita
Esquerda.

3 Comments:

Blogger Göttlicher Teufel said...

esquerda... acompanha pode ser que te leve a algum lado...

sexta-feira, 07 abril, 2006  
Blogger saisminerais said...

Pobre cato, nem te preocupas se ele gosta da música que ouves! Já reparaste na pele dele arrepiada? será que é de te ver brincar com a agua poluida da torneira, ou da garrafa que estando vazia irá parar algures num caixote de lixo qualquer... Ou simplesmente te olha e pensa... Se eu fosse rapaz!

sexta-feira, 07 abril, 2006  
Blogger Ricardo Malafaia said...

caramba gostei mesmo deste texto =)

terça-feira, 27 novembro, 2007  

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