9.12.05

conclusões precipitadas

ninguém


para



ouvir.








ninguém

para



escutar.





«Tu disseste: "Quero saborear o infinito"

Eu disse: "A frescura das maçãs matinais
revela-nos segredos insondáveis"

Tu disseste: "Sentir a aragem que balança os dependurados"

Eu disse: "É o medo que nos vem acariciar"

Tu disseste: "Eu também já tive medo. muito medo;
recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da porta"

Eu disse: "Acabamos a gostar do medo,
do arrepio que nos suspende a fala"

Tu disseste: "Um dia fiquei sem nada.
Um mundo inteiro por descobrir"

Eu disse: "O que é que isso interesse?"

Tu disseste: "Nada..."

Tu disseste: "Agora procuro o desígnio da vida;
às vezes penso encontrá-lo num bater de asas,
num murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon;
escrevo páginas e páginas a tentar formalizá-lo.
Depois queimo tudo e prossigo a minha busca.

Eu disse: "Eu não faço nada.
Fico horas a olhar para uma mancha na parede"

Tu disseste: "E nunca sentiste a mancha a alastrar,
as suas formas num palpitar quase imperceptível?"

Eu disse: "Não. A mancha continua no mesmo sítio,
eu continuo a olhar para ela e não se passa nada"

Tu disseste: "E no entanto a mancha alastra
e toma conta de ti, liberta-te do corpo. Tu é que não vês"

Eu disse: "O que é que isso interessa?"

Tu disseste: "Nada..."»


Mão Morta