29.11.06

Rasgo-me do peito até à pele.
Sinto as minhas unhas a perfurar e a fendilhar os meus músculos.
Depois a massa gordurosa que me cobre.
E finalmente a derme e a epiderme. Até chegar ao exterior e finalmente, respirar.
Respirar um ar mais bafiante e desoxigenado que o sangue seco que me escorrega nas veias.
Nas veias pelas veias e até ao veio da abertura por onde saio de dentro de mim. Começo pelos braços, estalo o pescoço até ver dolorosamente o mundo. Pressiono a minha bacia e ergo a cinta, as pernas e os pés com que piso a minha carcaça reutilizável e pouco útil.
Liberto-me e deixo-me para trás.

É pena que tudo se tenha passado dentro do interior de mim.

14.11.06

Não consigo dormir,
Perguntas atormentam-me e rodopiam na minha cabeça.
A vida, ou a falta dela, em fragmentos
Entrecortados, flasha-me nos olhos.
Ou melhor,
Por traz deles.

Lá…
Onde tudo começa e raramente termina.
Lá. No início dos olhos até ao fim da nuca.
Lá. No início da nuca até ao fim dos olhos.
Lá. Onde vivo, ou sobrevivo.

E nesse lugar onde tudo é caótico e tão belo,
Tão perfeito
Nesse lugar onde tudo existe e nada acontece.
É ai onde nasce o amor mais profundo.
É ai que te beijo desde o fundo.
E será sempre ai
Onde dormirás por um ínfimo segundo
E permanecerás
Até ao fechar do mundo.