28.9.05

descanço

á muito que conheço as cores da vida.

finalmente posso descançar.




muito

ou

pouco.

26.9.05

olho as estrelas.
pequenos pontos de luz
perfuram a minha memória.
Uno-os.
constelações de lembranças ou de antevisões.
cegam-me.
Respiro uma sensação comichoza
que me percorre os pulmões e o coração.
E entranhasse no estômago
contorcido de agrado
e saciado de amor.

a sonolência esfrega-me as palpebras.
adormeço
em
lençóis
de
neve.

16.9.05

Dor de Ego

Embala, embala
num berço de Teia.
Embala, embala
teu Ego arranhado.
embala e Esfaqueia
engole e Saboreia
teu ego Areado.
Embala e congela
Tritura e quebra.
Embala, embala
teu Ego petreficado.

14.9.05

quero dormir...
e acordar de manhã...
mas não posso.
a minha cabeça pensa em demasiadas coisas e ao mesmo tempo, não pensa em nada.
quero fechar os olhos, suspirar, morrer a mexer o peito.
em movimentos relaxados e escassos.

arranquem-me a cabeça e amarrem-me as artérias.
agrafem-me os olhos.
esmurrem-me a boca.
calem-me o coração
com dois bafos de dor arfados da parede de aço (inoxidável, por causa do sangue)

se não dormir...
Riam. no meu funeral.

Enterrem-me. mais viva do que morta.

11.9.05

reencontro

e no momento.
as palavras não soam no cimo do poço.
a língua pregada movimenta-se.
descompassada.
a caixa fecha, nada pode parar a tampa.
o Vacúo.
partilhamos o ar.
transpiramos oxigênio.
Um som.
Um sentimento.
Um toque.

erguem-se as palpebras.
num descolar de sono.
num olhar de sonho.
num deslaçar de braços.
num nó de pupilas.

escancaro o coração.
a alma solta sopra sobre o pescoço:

-Amo-te

5.9.05

o meu jardim

no jardim dos mármores encerados
Ardo,
num fogo sem chama.
num fio de navalha Suíça deslizo.
e caio.
escorre em fio de pingo de chuva, ódio, amor, raiva, Saudade.
chapa amolgada, cama de hospital.
divagações várias.
acordes mal aplicados.
setas triplas me atravessam.
atravessam a carne já morta,
que podre, vai caindo em pedaços.
no fim. Deusa imensa.
Rainha de Arame.
desfruto.
do meu tesouro de rosas secas e muito abertas.
Mergulho.
no meu perfume a sangue seco.
no meu castelo de areia seca e deslavada.
vivo, ou sobrevivo, talvez apenas habite o meu jardim.