30.6.05

venham as almas
espíritos.

venham os magos
bruxas
feiticeiros

unam-se as magias
branca
negra
amarela
vermelha

depois uma taça.
esborrachar tudo e juntar;
o útero da vida sobre a receita vai actuar.
e o olho que tudo vê irá condimentar e energia acrescentará.

com a ajuda de todos,
um trago irei provar.
e finalmente a minha boca se vai selar.

na minha língua sinto o sabor a sangue fresco.
com o picante da tua boca tudo pode acabar.

Beija-me

29.6.05

penso:

às vezes gostava que a minha vida fosse um filme.
um filme de terror era o ideal.

porquê?

a resposta é simples nos filmes de terror ou se morre ou se vive feliz para sempre.
na pior das hipoteses. fazem uma segunda parte. mas aí a história repete-se.

vamos gravar???

28.6.05

bem vindos

aqui poderás entrar no meu pequeno mundo.
abro uma janela. esperando que uma porta me seja oferecida. e alguém rode a maçaneta. até lá vou abrir o livro que nasceu dentro do meu corpo e que a minha alma arrasta. as suas paginas aqui expostas dirão tudo e nada de mim.

devora as palavras do meu livro e liberta as palavras do teu.

a ti. desejo uma boa viagem pelas ilhas do meu mundo.

13.6.05

folhagem negra

a Natureza vive.
e como todas as coisas vivas
transporta dentro do seu intimo.
a escuridão.

cada árvore, cada flor, cada semente.
tem um núcleo de morte,
sofrimento e vida.

na Natureza sinto-me embalada,
aconchegada; em casa.
tudo o que sinto tu também sentes Natureza, não podes negar.
cada onda do mar, transporta em sí o sofrimento humano.
cada pedra tem na memória todos aqueles que já atacou.

Natureza, tu que és tão verde,
mas, aos meus olhos, tudo em ti é negro.
e eu Gosto.

a tua escuridão ilumina e amortece o meu caminho.

12.6.05

fica

medito no meu silêncio.
o mundo desmonta-se
o céu e a terra,
como peças de um puzzle,
deslizam
uma sobre a outra.

e no meu silêncio meditacional,
ouço a tua voz,
ouço o teu toque.
e o teu amor grita.

o silêncio.
jamais será quebrado.

a dor sustenta-o
a alegria desperta-o
e eu sinto-o

trespassa-me como punhais
arrepia-me como o teu toque
engole-me como a culpa.

e mastiga-me como a angústia de te perder.

silenciosamente.
Fica.

no meu quarto

nada no meu quarto resiste.
à negra podridão,
que o meu coração emana.
tudo o que é vivo.
morre.

no meu quarto a luz não entra.
porque eu sou a cortina
que protege todo o meu mundo.

as plantas,
apodrecem
numa nuvem negra
e libertam o cheiro ameno
da potrefacção.

no meu quarto
só eu sobrevivo.
só eu vivo e renasço.
todos os dias.

embalada pelo silêncio
aromatizado pela escuridão.

a decadencia veio,
dá-me um beijo de boa noite.
e assim continuo.
morta.
no meu quarto.

onde nada vive.

apenas eu. e a solidão empedrada.

sonho

deitada.
olho para o tecto
liso.

e os meus olhos rasgam nele uma porta, e desfazem-no em pequenos pedaços.
do outro lado o céu.

o céu onde eu queria estar.

9.6.05

a morte

desde a ponta do meu pé que me transformo em pedra.

um granito gelado.
que queima e que fossiliza a dor,
perda,
descanço.

o granito que serei.
um dia.
hoje,
amanha?
quem sabe.

o granito que arde e vive dentro de mim.