21.11.05

Desejos

Por vezes olho para as mãos.
A sensação que me faltam dedos é frequente.
Vejo-me no espelho,
Os olhos castanhos do espelho observam-me.
Nada é como d'antes.
Fisicamente, pertenço aqui.
Mentalmente vagueio em todo lado menos aqui.


Adoça-me os sentidos,
Trinca-me fortemente as costas.
Está-la os dedos nas minhas pernas.
Arranca-me a língua com prazer.
Com linha vermelha matizada cose-me os lábios,
De uma ponta à outra.
Sem falhas.

4.11.05

Com Pormenor

Escrevi à uns tempos, decidi publicar agora.



Mentalmente desenho um quadrado.
A mediatriz coincide com o centro do meu coração.
Com uma broca de 6 mm,
Marco todas as arestas.
Bisturi na mão direita,
Desenho todos os lados, perfeitos, com 20 cm de comprimento.
Com uma grande pinça, levanto o canto inferior esquerdo.
Retiro toda a epiderme.
Vejo o coração descompassado,
A bater dentro das costelas.
Preparo o cubo com mil cm3.
E encho-o com uma solução aquosa de amor e sangue.
Volto ao peito.
Cerro todas as costelas necessárias.
Com fitas de seda amarro todas as artérias.
Corto-as perto do coração.
Pego-lhe e sinto-o bater nas palmas das minhas mãos.
Coloco-o no cubo e fecho a tampa.
Dentro dum saco com um bilhete o ponho.

“Para ti meu Amor”